domingo, 5 de setembro de 2010

Solidariedade:natureza ou convenção social?

Convide um indivíduo para alguma festividade ou algo que envolva comida, bebida e uma interação alegre com pessoas conhecidas -não importa o horário-e há uma grande chance dessa pessoa comparecer de bom grado. Convide esse mesmo indivíduo para ir a um hospital, velório ou residência para prestar solidariedade a alguma família ou a um amigo ou parente enfermo, e talvez a sua disposição não seja exatamente a mesma.


Desconsiderando a constatação de que frequentar uma festa seja realmente mais agradável do que ir a uma cerimônia fúnebre, a solidariedade, principal traço que nos diferencia dos outros animais, parece não ser tão natural e intrínseca quanto gostaríamos de pensar. Admito me sentir deveras desconfortável nessas situações. Talvez porque não saiba realmente o que dizer e me desagradem os clichês, do estilo: “tudo vai dar certo ou “ele ou ela certamente está em um lugar melhor”. Creio que um silencioso e sincero abraço muitas vezes significa mais do que frases convencionadas socialmente.

Alguns dias atrás me vi sentado no carro durante quase 20 minutos, hesitante que estava de ir ao hospital visitar um tio que havia sofrido uma cirurgia que lhe amputou umas das pernas. Pensava: “meu Deus, o que dizer a uma pessoa que acabou de perder uma parte do seu corpo? “. O que me fez finalmente dar a partida no veículo foi pensar que, caso fosse eu naquela situação, estaria me sentindo extremamente sozinho, e que ter um rosto conhecido por perto talvez me oferecesse algum tipo de conforto, por menor que fosse.

Isso trouxe à mente uma reflexão e à memória um trecho de um de meus livros favoritos: “The Servant”, que diz:

seja bom com os outros. A distância que você caminha na vida vai depender de sua ternura com os jovens, da sua compaixão com os idosos, sua compreensão com aqueles que lutam, da sua tolerância com os fracos e os fortes. Porque algum dia na vida, você poderá ser um deles.”




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